Cuidados paliativos são oferecidos em menos de 10% dos hospitais brasileiros

Em 16/11/2018
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De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cuidados paliativos são a assistência de uma equipe de médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais de saúde para melhorar a qualidade de vida do paciente e dos seus familiares diante de uma doença sem cura. O objetivo é promover o alívio do sofrimento tratando a dor e outros sintomas físicos, psicológicos e espirituais.

Pessoas com câncer em estágio avançado são exemplos de doentes que podem se beneficiar. Mas a falta de informações e a pequena oferta dos serviços na rede de saúde ainda são obstáculos. Menos de 10% dos hospitais no Brasil têm equipes de cuidados paliativos. O dado é de um estudo deste ano realizado pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos. De 2.500 hospitais com mais de 50 leitos existentes no Brasil, 177 oferecem o serviço, a maioria na região Sudeste.

A defasagem começa na formação dos médicos. Entre os cursos de medicina nas universidades brasileiras, 14% oferecem a disciplina de cuidados paliativos, sendo matéria obrigatória em 6% das escolas médicas. Na Universidade Federal de Pernambuco, há uma disciplina eletiva sobre o tema. De acordo com a geriatra do Hospital das Clínicas da UFPE, Isaura Peixoto, há profissionais capacitados na área trabalhando para divulgar essa modalidade de atendimento. “No Hospital das Clínicas da UFPE já ministramos aulas sobre cuidados paliativos no curso médico, porém ainda não é uma disciplina curricular. O HC também tem profissionais com especialização em cuidados paliativos e já formamos uma equipe multiplicadora.”

Os cuidados paliativos começaram a ser levados em consideração com o avanço da medicina e a melhoria das condições de vida da população. As pessoas começaram a viver mais e, assim, mais gente passou a conviver com doenças crônicas. O paradigma da medicina centrada no ataque à doença precisou ser atualizado. Os primeiros esforços para estudar formas de diminuir o sofrimento de pacientes sem possibilidade de cura ocorreram na Inglaterra na década de 1960. No Brasil, serviços de caráter experimental começaram a surgir nos anos 1990.

A geriatra Isaura Peixoto explica que o entendimento da vida e da morte como processos naturais é um dos princípios norteadores dos cuidados paliativos.  Dessa forma, segundo ela, a morte não deve ser apressada nem adiada, e os pacientes recebem ajuda para viver o mais ativamente possível até o falecimento. Ainda de acordo com a geriatra, o tratamento também beneficia os familiares do doente e os próprios cuidadores. Nesses casos, o sofrimento é compartilhado. “O grande diferencial dos cuidados paliativos é que abrange o paciente, a sua família, e até seus amigos e seus cuidadores. O cuidar precisa envolver todos, uma vez que todos sofrem junto com o paciente. A equipe de saúde precisa também ter preparo técnico e emocional.”

Além da capacidade técnica, os profissionais precisam desenvolver habilidades emocionais para prestar cuidados paliativos. É necessário, por exemplo, aprimorar estratégias de comunicação e de fortalecimento das emoções para lidar com o sofrimento, o processo de morte e o luto. No final, a gratidão de quem encontra o apoio adequado para viver bem até o último momento, como uma paciente do Imip que não quis se identificar. “Para mim, eu digo que é o melhor possível, porque eu gosto demais de todos vocês. Vocês são carinhosos, vocês são as verdadeiras cuidadoras.” 

A Casa de Cuidados Paliativos do Imip funciona dentro do hospital, na rua dos Coelhos, n.º 300, Boa Vista, no Recife. O telefone é 2122-4116.